No início de 2023, 77,9% da população brasileira está endividada. Esse número representa um recorde histórico: é o número de endividados mais alto de todos os tempos. É o que confirma o levantamento feito pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).
É certo que a inflação e os juros altos dos últimos anos contribuíram para esse endividamento, especialmente no pós-pandemia.
Mas não adianta ficar apenas falando do problema. Se você está enfrentando problemas para pagar suas dívidas é preciso buscar uma solução, antes que a situação piore.
O importante saber é que existem algumas opções e atitudes que você pode tomar AGORA para começar a se livrar desse transtorno que é o endividamento.
1. Comece reavaliando o seu estilo de vida
Se as suas dívidas já parecem que são impagáveis é bem provável que você em algum momento anterior passou a viver um padrão de vida incompatível com o que você recebe ou, ainda, que você teve um decréscimo de vencimentos mas manteve o mesmo padrão de vida de antes. Tudo bem, é difícil aceitar qualquer uma dessas situações, mas também é difícil viver endividado. Então, está na hora de escolher o que é mais difícil para você e tomar uma atitude.
Comece revendo seus gastos para ver se não está tentando se compensar pelo sofrimento de estar endividado. Muitas vezes esse tipo de compensação é feito com a criação de mais dívidas.
Volte à realidade e assuma a responsabilidade pelo endividamento e por tomar uma atitude para resolvê-lo.
Um bom início para avaliar se o seu estilo de vida é compatível com a sua renda é verificar o quanto da sua renda é gasta com coisas essenciais e o quanto é gasto com coisas supérfluas que você comprou mais por gosto que por necessidade.
Se você gasta mais com passeios e restaurantes do que com a compra mensal de mercado e quitanda ou feira, preste atenção que há uma sirene vermelha piscando e tocando alto, avisando que tem algo muito errado com isso.
Então anote tudo que você tem gastado nos últimos meses, inclua as dívidas parceladas no cartão de crédito (ainda a pagar) e separe das despesas essenciais (aluguel, contas de água e luz, supermercado e tudo o mais que for básico e necessário).
Estando endividado, considere que são gastos supérfluos: passeios e diversão que se paga ingresso, saídas noturnas (baladas), restaurante ou barzinho com amigos toda semana, qualquer vestuário para usar nessas ocasiões, churrascos todo final de semana, um monte de serviços de streaming assinados, comer em restaurante por quilo no serviço etc. Acho que com esses exemplos dá para entender o que é supérfluo, não é mesmo?
E seja realista e verdadeiro com você mesmo em relação ao que é supérfluo e o que é essencial. Não é hora de se achar “merecedor” de qualquer coisa. Desapega e você consegue pagar as dívidas.
Feito isso, compare o que você está gastando com o seu salário ou rendimentos, separando em 3 partes: 1) salário; 2) essenciais; 3) supérfluos.
2. Controle os seus gastos
Se os gastos supérfluos forem mais que os gastos essenciais, você já tem a resposta se seu estilo de vida é adequado ou não, porque você está endividado.
A divisão ideal do que você ganha tem que ser adequado para a sua sobrevivência (essenciais), o seu lazer (supérfluos) e para o seu futuro (investimentos).
Para quem está endividado, a divisão muda um pouco: uma parte é para sobrevivência (essenciais), uma parte é para lazer e diversão (supérfluos nesse momento de vida) e uma parte é para pagamento das dívidas (que para o endividado deve ser encarado como um investimento). Isso mesmo, pagar as dívidas é um investimento em sua qualidade de vida.
Como as dívidas já estão aí e seu salário não muda, o dinheiro para pagar seus credores tem que vir de algum lugar.
Então é hora de cortar os gastos supérfluos, da forma mais radical que você puder. Fale para os amigos que está em ano sabático, que fez promessa, o que for. Mas reduza esses gastos para começar a pagar suas dívidas.
Para ter mais controle dos seus gastos não é preciso nada mais que um caderno (daqueles bem baratinhos) e lápis. Se você se dá bem com planilhas, melhor ainda. Também existem alguns aplicativos que ajudam na organização financeira, mas a maioria é pago e o tempo que você gasta para aprender como funcionam ou alimentando as informações, não compensa. Vá no básico que já resolve: caderno ou planilha. Assim já começa economizando tempo e dinheiro.
Seja simples, anote seus gastos descrevendo de que se trata e classifique-os. Nada de ficar criando classificações complexas, gêneros, espécies, subespécies do tipo: alimentação, mercado mensal, mercado do dia, passeios, barzinho, roupas para sair, almoço por quilo no trabalho, almoço por quilo no final de semana. Eu sugiro que você utilize só duas classificações: “essencial” e “supérfluo”:
30/03/2023 – happy hour com amigos – R$150,00 – supérfluo
1º/04/2023 – mercado para a semana – R$200,00 – essencial
E por falar em controle de gastos, cuidado com as compras por impulso. Primeiro pense no essencial e seja realista.
A maioria das pessoas adora comprar por impulso: “mais vale um gosto que o dinheiro no bolso” é o que diziam os antigos. De onde você acha que vem essa visão? Essa frase é ótima se você é uma loja que precisa vender o estoque, mas se quem está endividado deve utilizar outra frase que vai trazer um resultado muito melhor: “de moeda em moeda se faz uma fortuna”.
3. Faça um planejamento para pagar suas dívidas
Depois de controlar os gastos e saber de onde você economizar, agora é hora e colocar o trem no trilho. E para isso, o primeiro passo é anotar todas as dívidas que você tem. Anote o que for dívida do cheque especial, financiamentos, cartão de crédito, compras parceladas, contas em atraso, dinheiro que pegou emprestado.
Nesse momento é muito importante que sejam anotadas as informações críticas tais como valor devedor total, prazo de pagamento ser for dívida de financiamento ou parcelada, e nos casos de financiamento, cheque especial ou rotativo do cartão de crédito, o valor dos juros pagos.
Isso é essencial para você começar a planejar quais dívidas pagar primeiro ou se há dívidas que podem ser renegociadas individualmente ou em lote. Algumas vezes é possível reduzir uma dívida apenas renegociando a modalidade. Por exemplo, se você tem dívidas de cheque especial e de cartão de crédito, talvez compense procurar um banco (não precisa ser o seu) para renegociar essas duas dívidas de juros muito elevados, por uma dívida só com juros mais baixos. Isso é possível? Sim, mas deve ser feito com muita cautela, para não cair no impulso de aproveitar e pegar mais um dinheirinho para trocar de carro, por exemplo.
Então, vá com calma. Utilize as duas primeiras dicas como ponto de partida, antes de procurar uma renegociação.
Outra possibilidade, se você estiver disposto a mudar de vida e se tornar uma pessoa financeiramente mais equilibrada, é procurar a ajuda de um profissional. Preste atenção no que eu disse, um profissional. Isso é muito mais que procurar o gerente do seu banco, lembrando que o gerente da sua conta está mais preocupado em vender os produtos do banco que ajudar você.
Quando falo em ajuda profissional, quero dizer que existem no Brasil profissionais habilitados e especializados em Planejamento Financeiro. São pessoas que trabalham exclusivamente com a gestão e planejamento financeiros e podem avaliar a sua situação para resolver problemas de endividamento, aposentadoria, gestão financeira.
Infelizmente o número de profissionais habilitados no Brasil ainda é muito pequena, mas se a sua situação estiver muito complicada, talvez valha a pena você procurar alguém profissional para te ajudar.
Vou deixar aqui um link para você entender melhor quem é, o que faz e como encontrar um Planejador Financeiro profissional certificado: LINK.
Conclusão
Viver endividado não é projeto de vida para ninguém, mas às vezes acontece de você perder o controle e cair nas dívidas. Agora para se livrar das dívidas é preciso ter consciência da situação, aceitando que está em condição difícil, mas que se você tiver realmente vontade e inteligência financeira, será uma condição temporária. Além dos passos acima, acredite que investir em conhecimento faz parte dessa caminhada rumo à liberdade financeira, que vai tornar em realidade tudo aquilo de bom que você sempre sonhou para você e sua família.